terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

(Delimitando o Tema) As escolhas que dependem mais diretamente do pesquisador

No último post (http://ning.it/gFw4vl), apontamos algumas questões pertinentes às pressões externas que se abatem sobre um tema de pesquisa ou que o beneficiam. Consideremos agora o que deve ser levado em conta do ponto de vista do próprio pesquisador quando da escolha de seu tema.

Antes de mais nada, o pesquisador deve perguntar a si mesmo se o tema escolhido efetivamente o interessa. Nada pior do que trabalhar em uma pesquisa com a qual não nos identificamos. Uma pesquisa sobre um tema sem interesse para o autor, apenas com vistas a assegurar um título de mestre ou de doutor (situação que tantas vezes se verifica), corre o risco de se tornar meramente burocrática, e de repassar aos futuros leitores e à banca que examinará a tese a mesma sensação de enfado que assaltou o seu autor durante a sua realização. O destino de uma tese como esta é um arquivo que jamais será consultado pelos olhares interessados dos futuros pesquisadores, e que somente será lembrada pelo seu próprio autor como uma tarefa penosa que teve de cumprir um dia para conquistar uma pequena promoção acadêmica ou salarial.

É necessário, portanto, investir em um interesse efetivo quando se busca uma temática para iniciar uma pesquisa – interesse que, trazendo as marcas subjetivas que afetam diferentemente cada pesquisador, pode estar motivado tanto por uma simples curiosidade intelectual como pela intenção mais altruísta de fazer avançar o conhecimento científico.

Já o aspecto da relevância do tema escolhido é sempre uma questão delicada. Será relevante escrever uma tese sobre a minha pequena cidade natal, apenas para preencher motivações afetivas que provavelmente me chegam dos tempos de criança? Não seria melhor me dedicar a um assunto de interesse nacional, que correspondesse a um maior número de interesses entre os meus possíveis leitores? Ou, pensando bem, a tese sobre a pequena cidade em que nasci não poderia se converter em um excelente exercício de micro-história para compreender a sociedade mais ampla e acessar outras realidades similares?

Procurar indagar sobre que interesse uma certa pesquisa poderá ter para a sociedade corresponde sempre a uma reflexão legítima. Tal como já foi mencionado, a relevância que um autor atribui ao seu próprio trabalho tende a interagir com os critérios de relevância que lhes chegam através da sociedade ou da Instituição, ou ainda através do conjunto de opiniões que o alcançam a partir de seus pares historiadores sob a forma de comentários e intertextualidades diversas. De qualquer maneira, o que não se pode é classificar uma pesquisa alheia como “irrelevante” apenas com base nos critérios que nós mesmos resolvemos adotar. Já se disse que “nada do que é humano é alheio ao historiador”. Dentro dos limites generosos do “tudo é história”, o pesquisador deve se esforçar por encontrar um tema que o deixe simultaneamente em paz consigo mesmo e em paz com o mundo que o cerca.

Não existem parâmetros oficiais para medir a relevância de um tema. O que existe é um consenso de que a questão da relevância deve ser constantemente refletida por aqueles que pretendem realizar um trabalho científico. Esta consciência dos aspectos que trazem relevância ao tema, aliás, também deve aparecer no Projeto de Pesquisa – merecendo um capítulo especial que chamaremos de ‘Justificativa’ e que discutiremos mais adiante.

Outro aspecto fundamental a ser considerado por ocasião da escolha do tema é a sua viabilidade. Por mais que um tema nos interesse, e por mais que o consideremos relevante, será inútil embarcar na aventura da produção de conhecimento científico se este tema não for viável. Existirá uma documentação adequada a partir da qual o tema poderá ser efetivamente explorado? Se esta documentação existe, conseguirei ter um acesso efetivo a ela? Existirão aportes teóricos já bem estabelecidos que me permitam abordar o tema com sucesso? Se não existirem, terei plena capacidade para forjar eu mesmo o instrumental teórico que me permitirá trabalhar com a temática proposta? O tema proposto requer exame de documentação escrita em língua estrangeira que não domino? Estarei plenamente capacitado para investigar este tipo de temática? Em uma palavra: o meu tema é viável? Eis uma preocupação que, com toda razão, deve pairar sobre a escolha do tema a ser investigado.

Um fantasma que costuma rondar a escolha de um tema para pesquisa é a obsessão do “ineditismo”. Com freqüência se exige das escolhas temáticas que elas sejam perpassadas por algum nível de originalidade. Não tem sentido acadêmico empreender uma pesquisa que rigorosamente já foi realizada, ou escrever uma tese que repita com mínimas variações uma tese anterior. O caráter inovador é ainda mais exigido em uma Pesquisa de Doutorado, mas também na Pesquisa de Mestrado é habitualmente solicitado.

Atente-se, porém, que a originalidade pode aparecer de diversas maneiras em uma pesquisa prevista. Um historiador pode inovar no seu tema propriamente dito, nas hipóteses propostas, nas fontes que utilizará, na metodologia a ser empregada, ou no seu aporte teórico. O seu tema já tantas vezes percorrido por outros historiadores pode merecer uma interpretação inteiramente nova, mesmo utilizando fontes já conhecidas. Assim, o pesquisador não deve deixar que o persiga obsessivamente a idéia de que é preciso encontrar um tema que ainda não tenha sido trabalhado. Tanto mais que, com uma superpopulação sempre crescente de dissertações de mestrado e teses de doutorado, os temas literalmente virgens tornam-se cada vez mais raros.

Na verdade, é sempre possível inovar – mesmo que a partir de um caminho aparentemente já percorrido. Um exemplo marcante é a obra “A Conquista da América” de Todorov[1]. Este autor conseguiu construir uma obra radicalmente inovadora a partir de um tema e de um problema que já haviam sido trabalhados inúmeras vezes por diversos historiadores, alguns dos quais utilizando as mesmas fontes das quais o escritor búlgaro lançou mão. A inovação, neste caso, esteve concentrada simultaneamente na abordagem teórica empregada e na metodologia utilizada, que incorporou as mais novas possibilidades de análise de discurso e de análises semióticas. A abordagem teórica, elaborando de maneira original conceitos como o de “alteridade”, concedeu mais um matiz de originalidade a esta obra que é hoje uma referência fundamental nos estudos históricos sobre a “Conquista da América”.

Daí pode ser extraída uma lição importante. Não é preciso necessariamente encontrar um tema novo, que não tenha sido abordado antes por outros pesquisadores. Vale também trabalhar um tema já antigo de maneira nova.

Uma derradeira questão, das mais importantes, é a que indaga por uma adequada especificidade do seu tema. O “pesquisador de primeira viagem” – marinheiro que atravessa pela primeira vez o oceano das suas possibilidades de produzir conhecimento científico – revela habitualmente a tendência a escolher temas demasiado amplos. A experiência ainda não lhe deu a oportunidade de aprender que um tema, para ser viável, deve sofrer certos recortes.

Ouçamos o que tem a dizer Umberto Eco[2] acerca desta tentação de “escrever uma tese que fale de muitas coisas” que aparece tão insistentemente entre os estudantes desavisados que iniciam suas primeiras experiências de pesquisa:


“O tema Geologia, por exemplo, é muito amplo. Vulcanologia, como ramo daquela disciplina, é também bastante abrangente. Os Vulcões do México poderiam ser tratados num exercício bom porém um tanto superficial. Limitando-se ainda mais o assunto, teríamos um estudo mais valioso: A História do Popocatepetl (que um dos companheiros de Cortez teria escalado em 1519 e que só teve uma erupção violenta em 1702). Tema mais restrito, que diz respeito a um menor número de anos, seria O Nascimento e a Morte aparente do Paricutin (de 20 de fevereiro de 1943 a 4 de março de 1952)”


Com relação a este aspecto, que nos força a uma reflexão sobre as distinções entre ‘campo de interesse’, ‘assunto’*, ‘tema’*, ‘recorte temático’* e ‘problema’*, ver texto postado anteriormente neste blog (http://ning.it/e7BKMa).


Notas:

[1] TODOROV, T. A Conquista da América – a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
[2] Umberto ECO. Como se faz uma Tese. São Paulo: Perspectiva, 1995. p.8.

(Delimitando o Tema) O Recorte Temático e suas motivações sociais, intradisciplinares e acadêmicas

A escolha de um tema para pesquisa mostra-se diretamente interferida por alguns fatores combinados: o interesse do pesquisador, a relevância atribuída pelo próprio autor ao tema cogitado, a viabilidade da investigação, a originalidade envolvida. Mas é preciso reconhecer que, por outro lado, a estes fatores mais evidentes vêm se acrescentar inevitavelmente outros dos quais o próprio pesquisador nem sempre se apercebe. Existe por exemplo uma pressão indelével que se exerce sobre o autor a partir da sua sociedade, da sua época, dos paradigmas vigentes na disciplina em que se insere a pesquisa, da Instituição em que se escreve o pesquisador, ou do conjunto dos seus pares virtuais e concretos.
Tudo isto incide de maneira irresistível e silenciosa sobre o autor, mesmo que disto ele nem sempre se dê conta. Tornar-se consciente dos limites e desdobramentos sociais e epistemológicos de uma temática é uma questão estratégica importante para aquele que se empenha em viabilizar uma proposta de pesquisa, sendo forçoso reconhecer que o sucesso na boa aceitação de um projeto depende em parte da capacidade do seu proponente em conciliar os seus interesses pessoais com os interesses sociais mais amplos. Começaremos então por aqui.
Já se disse que um tema de pesquisa histórica (ou de qualquer outra modalidade de pesquisa) deve ser relevante não apenas para o próprio pesquisador, como também para os homens de seu tempo – estes que em última instância serão potencialmente os leitores ou beneficiários do trabalho realizado. Daí a célebre frase, cunhada por Benedetto Croce e reapropriada por Lucien Febvre[1], de que “toda história é contemporânea”. Sempre escrevemos a partir dos olhares possíveis em nossa época, e necessariamente escreveremos não só sobre aquilo que de nossa parte consideramos ser relevante, mas também sobre aquilo que tem relevância para nossos próprios contemporâneos. Tirando eventuais arroubos visionários e prenunciadores de interesses futuros, todo historiador tem pelo menos um de seus pés apoiado no seu tempo. Por trás de sua escrita, é a um leitor que ele busca (conscientemente ou não).
Visto deste modo, o problema da relevância de um tema histórico atravessa questões algo complexas. É preciso considerar que aquilo que uma época ou sociedade considera digno de estudo poderá ser ou ter sido considerado irrelevante em um outro momento histórico ou situação social. No século XIX, pouca gente imaginava no campo da historiografia ocidental que um dia iriam se tornar tão atrativos os estudos sobre a Mulher nas várias épocas históricas. Mas a partir da segunda metade do século XX este tem sido precisamente um dos temas mais cotejados pelos historiadores do Ocidente. Sem dúvida contribuíram para isto os movimentos feministas, a gradual inserção da mulher no mercado de trabalho, o reconhecimento acadêmico e político das minorias e maiorias oprimidas, e outros tantos processos que se desenvolveram no decurso do século XX.
Foi especificamente sob o contexto destes processos mais amplos que os silêncios historiográficos a respeito da Mulher passaram a ser ciosamente preenchidos pelos historiadores das mais diversificadas tendências, e até com uma certa avidez que buscava como que compensar o tempo perdido pelas gerações anteriores. As próprias mulheres do século XX, por outro lado, passaram a partilhar também aquela função de historiador que antes era exercida quase que exclusivamente pelos homens. De todos os lados surgiram obras sobre “A mulher na Idade Média”, “A mulher escrava no Brasil Colonial”, “A mulher na Revolução Francesa”, e também obras sobre personalidades históricas femininas. Na segunda década do século XX começaram inclusive a ser publicadas, primeiro na França e depois em outros países, obras panorâmicas sobre a História das Mulheres, em vários volumes, abarcando épocas e sociedades diversas.
Assim, um campo temático que em uma época anterior poderia ter sido taxado de irrelevante, ou que naquele momento sequer teria sido cogitado no seio da disciplina histórica, passava a constituir nesta outra época uma escolha historiográfica extremamente significativa. Eis aqui os olhares da sociedade presente e os seus movimentos internos fornecendo caminhos em pontilhado aos historiadores que, por vezes sem percebê-los, vão percorrendo-os quase que espontaneamente.
Existe ainda, para além das questões relacionados ao reconhecimento social da relevância temática, a questão mais delicada das pressões políticas e éticas que se exercem sobre o pesquisador que escolhe o seu tema ou delimita o seu problema de estudo. As escolhas éticas do historiador constituem certamente uma dimensão intrincada e complexa do trabalho histórico, sendo oportuno notar que esta dimensão ética se vê por diversas vezes perturbada por fatores menos relacionados com a “ética” propriamente dita do que com a “política” no seu sentido mais corriqueiro e cotidiano.
Incorporar uma dimensão ética à pesquisa científica é, sem sombra de dúvida, uma das mais legítimas preocupações que devem assaltar o pesquisador neste início de milênio. O cientista que inicia uma pesquisa sobre a possibilidade de clonar seres humanos deve refletir demoradamente sobre as implicações sociais desta possibilidade. O físico que libera as energias do átomo deve refletir preventivamente sobre as possibilidades de utilização das suas descobertas para a indústria bélica – para depois não precisar se refugiar naquele argumento vazio de “neutralidade” que advoga que o papel dos físicos é apenas desenvolver tecnologia, deixando-se aos políticos a obrigação moral de encaminhar adequadamente a utilização dos produtos desta tecnologia.
Da mesma forma, pode-se postular que a escolha de certos caminhos historiográficos e sociológicos deva ser permeada por uma reflexão ética correspondente. A que interesses servem o meu produto? Quais as futuras implicações do que agora escrevo? Que caminhos aqui se abrem, e que caminhos aqui se fecham? Contribuo para um mundo melhor, ou pelo menos mais divertido? É legítimo que o historiador interrogue a si mesmo acerca das responsabilidades envolvidas na leitura da História que ele mesmo produz. “Ciência com consciência”[2] – têm clamado nestas últimas décadas os filósofos de uma nova ecologia do conhecimento. “História com consciência histórica” – deveria ser um dos ecos deste clamor.
Mas há também o outro lado da questão. O “politicamente correto” é uma construção social do momento, como bem sabem os historiadores. O cuidado com o “eticamente adequado” e com o “politicamente correto” deve funcionar como fator enriquecedor, e não como fator imobilizador. Assim, se a sensibilidade do público e da comunidade acadêmica em relação a certo tema ou abordagem beneficia-se de oscilações através do tempo, para o desenvolvimento destas oscilações não deixam de contribuir também, com a sua iniciativa e com a sua praxis, os próprios historiadores. Para além disto, o tempo vivido é sempre o maior avalista de um objeto de estudo. Quantos temas históricos e perspectivas interpretativas – que um dia talvez tenham sido considerados empreitadas tão delicadas quanto caminhar através de um campo minado – não se tornaram possíveis depois que se “esfriaram” os acontecimentos !
Consideremos, a título de exemplo, os eventos traumáticos dos mega-atentados terroristas às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, no início deste novo milênio. Sob o peso do horror de milhares de mortes, dificilmente um pesquisador ocidental poderia enfrentar comodamente – nas proximidades cronológicas e espaciais deste evento – o desafio de escrever uma tese sobre “a importância dos mega-atentados de 2001 para a redefinição de uma futura política internacional mais socialmente conduzida”. Passados alguns anos, certamente começarão a surgir as teses e reflexões políticas menos comprometidas com as reações emocionais imediatas àqueles acontecimentos, e portanto mais acadêmicas ou profissionais. Hoje em dia qualquer historiador americano estuda Saladino, o grande líder islâmico medieval, sem se engajar em uma Cruzada. Mas qual deles se arriscaria – nestes dias seguintes aos mega-atentados, com a fumaça dos escombros ainda chegando aos céus de Nova York – a escrever teses explorando alguns dos lados mais espinhosos desta questão tão minada de ambigüidades?
Vale a pena visitar um ponto de vista exterior à Disciplina para iluminar a reflexão sobre o desejado equilíbrio entre ‘envolvimento ético’ e ‘distanciamento crítico’ na pesquisa histórica. Ao examinar os limites do conhecimento histórico, o antropólogo Da Matta tece alguns comentários que devem ser considerados:

“A eventos distantes no tempo corresponde uma predominância de interpretações acadêmicas em contraste com interpretações políticas; o evento está mais ‘frio’, para usarmos um qualificativo inventado por Lévi-Strauss. Concomitantemente, um evento mais próximo no tempo é um fato ainda se desenrolando entre nós. Um episódio que não esgotou suas ondas de impacto. Daí, certamente, as dificuldades de uma interpretação ‘fria’ acadêmica e a multiplicidade de interpretações políticas. Trata-se de um episódio ‘quente’, que se desenrola diante dos nossos olhos, e que ainda depende de nossa ação sobre ele”[3]


A escolha de um tema, enfim, freqüentemente se faz sob a força de ondas de impacto que nem sempre são percebidas pelos pesquisadores. Por outro lado, se os horizontes de expectativas de uma sociedade exercem sua irresistível influência sobre os historiadores na escolha de seus temas, também as práticas disciplinares vigentes em um período contribuem com a sua silenciosa pressão sobre os pesquisadores, com ou sem a consciência destes. O “paradigma”* de uma determinada disciplina como a História, em certa época, estende-se acima de todos os seus praticantes como um manto invisível, mesmo que haja diferenças radicais entre vários dos setores deste campo disciplinar e também resistências ao paradigma preponderante. Examinemos de perto esta questão.
No mundo ocidental, a Historiografia do século XIX havia se constituído tradicionalmente em torno do campo político, direcionando-se mais especificamente para o desenvolvimento dos Estados Nacionais. Ao lado desta historiografia francamente nacionalista, e freqüentemente imbricada nela, havia também a “História dos Grandes Homens”*, conforme o modelo apregoado pelo historiador escocês Thomas Carlyle. No que concerne ao estilo do seu discurso, de modo geral a Historiografia tendia a ser francamente narrativa (e pouco analítica ou estrutural como ocorreria no século XX). A própria narrativa historiográfica assim produzida era essencialmente uma ‘narrativa linear’ (não dialógica*, e não complexa). Com relação ao ponto de vista em torno do qual se organizava esta narrativa linear, era sempre o do poder instituído, e a História tinha uma tendência a ser quase sempre uma “História Institucional”. Era neste ‘modo historiográfico’ que os historiadores estavam habitualmente mergulhados, e os temas que selecionavam para suas pesquisas e reflexões aí se inscreviam de maneira imperiosa.
Na Historiografia do século XX, pelo menos a partir da sua terceira década, instalou-se ou reforçou-se uma tendência nova, que foi se tornando cada vez mais preponderante. A partir da chamada Escola dos Annales*, das novas formulações marxistas e de tantas outras contribuições historiográficas, consolidou-se precisamente um novo tipo de História, que relativamente ao seu modo de constituir o objeto de estudo e o discurso do historiador pode ser chamada de “História-Problema” – expressão que será aqui tomada no sentido de uma “história problematizada”, construída em torno de hipóteses e de análises de profundidade, e não mais como uma História que é mera ordenação factual ou descritiva.
De certa forma Karl Marx (1818-1883), no próprio século XIX, já havia sido um precursor deste novo tipo de História juntamente com outros historiadores isolados. O fundador do Materialismo Histórico* estava preocupado com um problema muito específico quando elaborava as suas análises sociológicas e históricas: o problema do desenrolar da luta de classes e de sua inserção em um modo de produção específico. Esta história já problematizada proposta pelas obras de Marx contrastava francamente com a produção historiográfica de seu tempo – situação que se veria invertida a partir do século XX.
Já não teria muito sentido para este novo século uma História meramente descritiva ou narrativa, no sentido exclusivamente factual. Aos historiadores impunha-se agora a tarefa não de simplesmente descrever as sociedades passadas, mas de analisá-las, compreendê-las, decifrá-las. Tratava-se, por um lado, de constituir um problema central que guiasse a reflexão historiográfica a ser realizada; de outro lado, cumpria trazer a discussão desenvolvida em torno do problema escolhido para a superfície do discurso.
Exemplificando com casos mais concretos, não faria mais sentido – a não ser em uma obra de divulgação para o grande público – produzir uma história descritiva e narrativa dos acontecimentos que marcaram a Revolução Francesa. O que se exigia do historiador agora era que ele recortasse um problema dentro da temática mais ampla da Revolução Francesa – como por exemplo o problema da “dessacralização do poder público na Revolução Francesa”, o problema da “influência das idéias iluministas nos grupos revolucionários”, ou o problema da “evolução dos preços na crise que precedeu o período revolucionário”.
O “Problema” passou a ser um recorte que deveria ser feito necessariamente no “tema”, conforme os novos parâmetros da própria disciplina histórica. Ao lado disto, o pensamento historiográfico passou a ser cientificamente conduzido por hipóteses, e não mais pela mera ambição descritiva ou narrativa. Levantar questões torna-se a partir de então uma dimensão fundamental para este novo tipo de História, conduzindo-a para muito além das explicações de tipo linear dos antigos historiadores.
De igual maneira, reconheceu-se na História que passou a preponderar no século XX a existência de uma pluralidade de perspectivas possíveis – e passou-se a falar também em uma “História vista de baixo”, em uma história das massas, e mesmo em uma história do indivíduo anônimo (em contraposição à velha biografia dos heróis oficializados). Com tantos novos desenvolvimentos, uma inédita diversidade de temáticas e de problemas possíveis para o trabalho historiográfico pôde ser pensada pelos pesquisadores do século XX, ao passo em que outras temáticas mais tradicionais foram se eclipsando. Na primeira metade deste século, por exemplo, declinaram as biografias de grandes personagens históricas, embora nas últimas décadas deste mesmo século elas tenham começado a retornar de forma totalmente distinta, mostrando-se já como “biografias problematizadas” que buscam iluminar através de uma vida os aspectos mais amplos da sociedade e não meramente ilustrar a vida de um grande rei ou herói.
Acompanhando as novas tendências, os domínios da História ampliaram-se extraordinariamente para âmbitos diversos – da cultura material até as mentalidades – e mesmo o Presente foi declarado território de exploração para o historiador, com a proposta de uma “história imediata” (ou de uma “história do tempo presente”). Tornando-se mais interdisciplinar, a História incorporou as abordagens de outras disciplinas como a Antropologia, a Lingüística e a Psicanálise, ampliando ainda mais a sua disponibilidade temática. A velha história política, com suas escolhas temáticas entre o institucional e o individual de elite, com seu olhar de cima e sua perspectiva eurocêntrica, teve de ceder espaço a uma nova história com a sua miríade de novos temas, a eclipsar os antes tradicionais objetos de estudo que, agora,. teriam de esperar novas reviravoltas para recuperar algum espaço no palco historiográfico[4].
Os campos temáticos da historiografia, como se vê, vêm e vão de acordo com as próprias flutuações histórico-sociais e em sintonia com as mudanças de paradigmas historiográficos. Com tudo isto, pretendemos dar a perceber que os temas e problemas selecionados para pesquisas históricas não constituem inteiramente uma escolha dos historiadores. A Sociedade, a Instituição e a comunidade de historiadores na qual eles se inscrevem exercem o seu papel de criar um universo de temáticas possíveis a partir das quais os historiadores fazem as suas escolhas. Dizer que estas escolhas são inteiramente livres seria uma quimera. A historiografia, tal como já assinalou de maneira bastante pertinente Michel de Certeau, inscreve-se em um “lugar de produção” bem definido[5].
É claro que compete aos historiadores inovar e propor novos temas e problemas para as suas pesquisas históricas. Mas é somente a custa de muitas resistências vencidas que os temas radicalmente inovadores passam a ser tolerados e respeitados, antes de passarem a compor com outros o repertório de temas historiográficos possíveis ou até de se tornarem a moda do momento. Em se tratando de pesquisas históricas realizadas dentro de instituições acadêmicas, ou mais especificamente das teses de mestrado ou doutorado, temos de reconhecer que a margem de escolha para os pesquisadores de História é freqüentemente ainda mais restringida. Por vezes, estes têm de se adequar às linhas de pesquisa* ou áreas de concentração da Instituição em que pretendem se inserir. Uma vez aceitos, terão de buscar um orientador e negociar com este o tema proposto. Não raro o orientador manifestará o interesse de que o orientando se encaixe em um Projeto maior que está coordenando, ou de que o orientando se sintonize com outros temas que já se encontram sob sua orientação. O interesse do orientador também é um dado legítimo, se quisermos falar mais francamente, e este dado passa a interagir de um modo ou de outro com o interesse mais específico do orientando.
Uma solução para o pesquisador que já possui um interesse temático muito bem estabelecido, e que  pretende ingressar em um Programa de Pós-Graduação, é investigar previamente qual a Instituição e quais os orientadores desta Instituição que melhor se sintonizarão com os seus objetivos. Esta será uma boa estratégia para diminuir a margem de conflitos, embora em uma certa medida os conflitos sejam inevitáveis e até desejáveis. Lidar habilmente com os conflitos de interesse que orbitam na relação ‘Orientador / Orientando / Instituição’ pode mesmo contribuir para enriquecer um tema, e não necessariamente para despedaçá-lo.





Notas:

[1]Benedetto CROCE, Teoria e storia della storiografia, Bari: Laterza & Figli, 1943. Lucien FEBVRE, Combates pela História. S. Paulo: Ed. UNESP, 1992.
[2] E. MORIN. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
[3] Roberto DA MATTA. Relativizando – uma introdução à antropologia social. Rio de Janeiro: Rocco, 2000 (6a Edição). p.128.
[4] Só nas últimas décadas do século XX começam a retornar, por exemplo, as possibilidades de um historiador tomar para objeto de estudo uma grande batalha, como foi o caso da Batalha de Bouvines, de Georges Duby. E as biografias de grandes personagens, depois de um longo ostracismo, também retornam em obras como o São Luís e o São Francisco de Assis de Jacques Le Goff e com o Eleito de Deus (Oliver Cromwell) de Christopher Hill. Quanto às biografias problematizadas de Lucien Febvre – sobre Lutero, Rabelais e Erasmo – foram exceções na primeira geração dos Annales, uma espécie de caminho prenunciado mas deixado a percorrer por gerações bem posteriores.
[5] Michel de CERTEAU. “A operação histórica” In A Escrita da História.  Rio de Janeiro: Forense, 1982.  p.31-64 e p.65-119.

(Delimitando o Tema) Recorte Serial e Recorte na Fonte

Outros tipos de recortes possíveis para os historiadores de hoje são o ‘recorte serial’ e o 'recorte na fonte'. Recorta-se o objeto não propriamente em função de uma determinada realidade histórico-social concernente a uma delimitação espaço-temporal preestabelecida, mas mais precisamente em função de uma determinada fonte ou série de fontes ou de materiais que é constituída precisamente pelo historiador. Vamos falar inicialmente do "recorte serial", que é aquele no qual o historiador trabalha não com fontes analisadas qualitativamente como unidades isoladas, mas sim como fontes que constituem uma "série". Este tipo de caminho historiográfico - que gerou uma modalidade denominada "História Serial" - começou a emergir a partir de meados do século XX, tendo como marco a já mencionada obra de Pierre Chaunu sobre Sevilha e o Atlântico.
Na chamada ‘História Serial’ o historiador estabelece uma “série”, e é esta série que particularmente o interessa. François Furet, em seu Atelier do Historiador[1], define a História Serial em termos da constituição do fato histórico em séries homogêneas e comparáveis. Dito de outra forma, trata-se de “serializar” o fato histórico, para medi-lo em sua repetição e variação através de um período que muitas vezes é o da longa duração. Na verdade a duração longa, ou pelo menos a média duração (relativa às conjunturas), foram as que predominaram nos primeiros trabalhos de História Serial – muito voltados nesta primeira época para a História Econômica e para a História Demográfica e combinados com a perspectiva de uma História Quantitativa. Mas, na verdade, pode-se proceder a uma serialização relacionada também a um período relativamente curto, desde que o conjunto documental estabelecido seja suficientemente denso[2].
De certo modo, as possibilidades de tratamento serial permitiram uma sensível ampliação de alternativas em termos de recorte historiográfico, uma vez que as séries singulares a serem construídas por cada historiador já não se enquadrariam nas periodizações tradicionalmente preestabelecidas. Criar uma série é, em certa medida, recriar o tempo – assumi-lo como ‘tempo construído’, e não como ‘tempo vivido’ a ser reconstituído.
Por outro lado, optar pelo caminho serial pressupõe necessariamente escolher ou construir um problema condutor muito específico – problema este que é fator fundamental na constituição da própria série. A História Serial veio assim diretamente ao encontro de uma História Problema, como as demais modalidades historiográficas que passaram a predominar na historiografia profissional do século XX.
Com relação a este aspecto, e em se tratando de uma série documental homogênea, não teria sentido examinar esta série evasivamente, de modo meramente impressionista. A História Serial constitui-se necessariamente de uma leitura da realidade social através da série que foi construída pelo historiador em função de um certo problema*. Não se trata, assim, de optar inicialmente pelo estudo de uma determinada sociedade para só depois buscar as fontes que permitirão este estudo ou o acesso a esta sociedade, como poderia se dar em outros caminhos historiográficos. O que o historiador serial estuda é precisamente a série: este é basicamente o seu recorte e a essência de seu objeto. E pode-se compreender como uma “série” tanto os fatos repetitivos que permitem ser avaliados comparativamente, como uma determinada documentação homogênea.
No primeiro sentido, François Furet fala em termos de uma serialização de fatos históricos que trazem entre si um padrão de repetitividade (fatos históricos que serão obviamente de um novo tipo, não mais se reduzindo aos acontecimentos políticos). No segundo sentido, ao examinar os novos paradigmas historiográficos surgidos no século XX, Michel Foucault assinala que “a história serial define seu objeto a partir de um conjunto de documentos dos quais ela dispõe”[3]. Isto abre naturalmente um grande leque de novas possibilidades:

“Assim, talvez pela primeira vez, há a possibilidade de analisar como objeto um conjunto de materiais que foram depositados no decorrer dos tempos sob a forma de signos, de traços, de instituições, de práticas, de obras, etc ...”[4]

Portanto, em que pese que fontes administrativas, estatísticas, testamentárias, policiais e cartoriais se prestem admiravelmente a um trabalho de História Serial, é possível também constituir em série documentação literária, iconográfica, ou mesmo práticas perceptíveis a partir de fontes orais. É mesmo possível constituir séries às quais não se pretenda necessariamente aplicar um tratamento quantitativo propriamente dito, mas sim uma abordagem mais tendente ao qualitativointeressada ainda em perceber tendências, repetições, variações, padrões recorrentes e em discutir o documento integrado em uma série mais ampla, mas sem tomar como abordagem principal a referência numérica.
Uma das obras de Gilberto Freyre, por exemplo, constitui como série documental para o estudo da Escravidão no Nordeste os anúncios presentes em jornais da épocaonde os grandes senhores anunciavam a fuga de escravos fornecendo descrições detalhadas dos mesmos, inclusive sinais corporais que falavam eloqüentemente das práticas inerentes à dominação escravocrata[5]. Não é propriamente o Escravo que é o seu objeto, mas “o Escravo nos anúncios de jornal”, como o próprio título indica. Ou seja, busca-se recuperar um discurso sobre o Escravo a partir de uma série que coincide com os periódicos examinados pelo autor; procura-se dentro desta série perceber uma recorrência de padrões de representação, mas também as singularidades e variações, e por trás destes padrões de representação os padrões de relações sociais que os geraram.
Quantitativos ou qualitativos, os caminhos historiográficos marcados pela ultrapassagem do documento isolado passaram a se integrar definitivamente ao repertório de possibilidades disponíveis para o historiador. Interessa-nos dar a perceber aqui que o recorte documental mostra-se como uma outra possibilidade para o historiador delimitar o seu tema. Definido este recorte, surgirá então uma delimitação temporal específica, que será válida para aquele recorte problemático e documental na sua singularidade, e não para outros. Dito de outra forma, em alguns destes casos é uma documentação que impõe um recorte de tempo, a partir dos seus próprios limites e das aberturas metodológicas que ela oferece.
Será bastante buscar uma exemplificação final com o próprio estudo pioneiro de Pierre Chaunu. O recorte de sua tese, estabelecido entre 1504 e 1650, é criado a partir de uma primeira data em que a documentação da ‘Casa de Contratação de Sevilha’ lhe permite uma construção estatística, e extingue-se no marco de uma segunda data quando a documentação já não permite uma avaliação quantitativa dos fatos (precisamente uma data relativa ao momento em que o comércio atlântico deixa de trazer a marca do predomínio espanhol e em que, consequentemente, a documentação de Sevilha se dilui como definidora de uma totalidade atlântica). O recorte documental problematizado, enfim, organizou o tempo do historiador.
O recorte serial é em boa parte dos casos um ‘recorte na fonte’. Mas existem, para além disto, outras possibilidades de recortar o tema de acordo com a fonte. Pode ser que o historiador pretenda examinar uma obra singularizadaou para identificar o pensamento de um autor, ou para analisar a sua inserção nos limites da épocacomo se faz muito habitualmente nos campos da História das Idéias e da História Social das Idéias. Pode ser que o interesse seja examinar uma determinada produção cultural, e que uma crônica, um cancioneiro ou uma seqüência iconográfica surjam como objetos de interesse de uma História Cultural ou de uma História Social da Cultura. Um mito ou um conjunto de mitos pode se constituir simultaneamente nas fontes e objetos de um trabalho de Antropologia Histórica. As possibilidades de empreender ‘recortes na fonte’, conforme se vê, são inúmeras.


[1]
François FURET. A Oficina da História. Lisboa: Gradiva, 1991. v. I.
[2]

Michel FOUCAULT. “Retornar à História” In Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. p.62-77. p. 290.
[3]
Sobre as possibilidades de utilização de técnicas seriais e quantificação para estudos de Micro-História, veja-se Carlo GIZBURG, “O nome e o como: troca desigual e mercado historiográfico” In A Micro-História e outros ensaios, Lisboa: Difel, 1991. p.169-178.
[4]
Michel FOUCAULT, “Sobre as maneiras de escrever a História” In Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. p.64.
[5]
Gilberto FREYRE. O Escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São Paulo: Brasiliana, 1988.

Delimitar o Tema

No último post deste blog (http://ning.it/f8A4Th), procuramos mostrar as diversas partes específicas que habitualmente constituem um Projeto de Pesquisa. Cada capítulo de um Projeto procura responder a uma questão específica, ou sintetizar elementos relacionados a uma dimensão específica da pesquisa - por exemplo, a Teoria, a Metodologia, as Hipóteses, a Revisão da Literatura Existente sobre o Tema, a Justificativa do Projeto, e assim por diante.

Uma das mais importantes partes de um projeto de pesquisa, a qual geralmente se situa logo no princípio do projeto, é capítulo denominado ‘Delimitação Temática’ (1) ou ‘Exposição do Problema’ (vimos que estes nomes variam muito, de instituição a instituição, e não devem ser tomados como parâmetros absolutos). Este capítulo procura responder a uma pergunta: "Sobre o que é a Pesquisa?" (ou seja: "qual o tema da pesquisa", "qual o objeto, o problema examinado?"). Veremos agora que a resposta a esta pergunta deve sofrer sucessivas delimitações, bem como integrar recortes simultâneos que podem remeter a um tempo, a um lugar, a um problema investigado.



Delimitar o Tema.


No seu sentido mais lato, “tema” (ver a definição da palavra no Glossário do livro "O Projeto de Pesquisa em História")* é um assunto qualquer que se pretende desenvolver. Quando se propõe que alguém escreva um texto escolar desenvolvendo o tema da “violência urbana”, espera-se que sejam abordados ou desdobrados alguns aspectos pertinentes a este tema. Depois de apresentar ao leitor o tema que pretende desenvolver, o autor pode começar nos sucessivos parágrafos a discutir aspectos específicos e diversificados que se desdobram deste tema, como “as causas sociais da violência urbana”, “as formas de prevenção ou de combate à violência urbana”, “a relação entre violência urbana e criminalidade”, e tantos outros.
Conforme veremos, “a violência urbana” pode ser um excelente tema para uma redação escolar, para um artigo de jornal, ou mesmo para um livro de divulgação junto ao grande público, mas não é um bom tema para uma monografia, para dissertação de mestrado ou para uma tese de doutorado. Espera-se, de um trabalho acadêmico de tipo monográfico, ou em modelo de tese, que o tema tenha mais especificidade. Pode-se por exemplo tomar como tema monográfico “A violência urbana no Rio de Janeiro dos anos 90”, ou, mais especificamente ainda, “A interconexão entre a violência urbana e o tráfico de drogas no Rio de Janeiro dos anos 90”. Ou, quem sabe, “Os discursos sobre a violência urbana nos jornais populares do Rio de Janeiro dos anos 90”. Pode-se dizer que, pelo menos no sentido acadêmico, “violência urbana” é apenas um ‘assunto’ um tanto vago, mas os temas acima propostos sim, seriam temas monográficos dotados de maior especificidade.
Uma “História da América”, por exemplo, está muito longe de ser um tema. É quando muito um ‘campo de estudos’ ou de interesses. A “Conquista da América” é mais específico, mas tampouco é ainda um tema. Na verdade é um ‘assunto’ que pode dar posteriormente origem a um tema mais delimitado, mas para isto terá de sofrer novos recortes. Pode-se estudar por exemplo “a alteridade entre espanhóis e nativos meso-americanos durante a Conquista da América, nas primeiras décadas do século XVI”. Este foi o tema escolhido por Todorov em uma de suas mais célebres obras. Nele já aparecem recortes ou dimensões mais específicos:  (1) um espaço mais delineado que é a região central do continente americano; (2) um recorte de tempo que se refere às primeiras décadas do século XVI; (3) um problema que é o da “alteridade” (ou do ‘choque cultural’ entre aquelas duas civilizações distintas).
Em História, é fundamental que o tema de pesquisa apresente um recorte espacial e temporal muito preciso. Isto corresponde a focar um assunto ainda geral em um “campo de observação” mais circunscrito. Assim, não se estuda em uma tese de doutorado “o Islamismo”, embora este seja um excelente tema para um livro de divulgação visando o grande público. Pode-se começar por recortar este assunto extremamente vasto propondo-se uma pesquisa sobre o “Islamismo fundamentalista no Afeganistão do final do século XX”. Neste caso, já temos um recorte espacial (o Afeganistão) e um recorte temporal (final do século XX). Poder-se-ia recortar mais ainda o tema, impondo-lhe um campo problemático inicial como “as restrições à educação feminina no Islamismo fundamentalista do Afeganistão do final do século XX”. O ‘problema’* é este ‘recorte final’ – esta questão mais específica que ilumina um tema delimitando-o de maneira singular, e que traz em si uma indagação fundamental a ser percorrida pelo historiador.
Conforme já ressaltamos anteriormente, a historiografia de hoje exige temas problematizados, sobretudo nos meios acadêmicos. Seriam bons temas para a “História-Problema” de a partir do século XX recortes como ... “a alteridade entre espanhóis e nativos meso-americanos nas primeiras décadas da Conquista da América”, “as restrições à educação feminina no Islamismo Afegão de fins do século XX”, “a dessacralização do poder público durante a Revolução Francesa” (e não simplesmente “A Conquista da América”, “O Islamismo Afegão” ou “A Revolução Francesa”).
Ainda mais especificamente, pode-se dizer que um “problema de pesquisa” corresponde a uma questão ou a uma dificuldade que está potencialmente inscrita dentro de um tema já delimitado (resolver esta questão ou esta dificuldade é precisamente a finalidade maior da pesquisa). O “problema” tem geralmente um sentido interrogativo. Retomando-se o tema da “Alteridade na Conquista da América”, poderíamos dele extrair a seguinte indagação: “O Choque Cultural foi vivenciado de formas distintas por conquistadores espanhóis e por conquistados meso-americanos? Ou, ainda, “qual a contribuição do Choque Cultural para a implementação de uma conquista espanhola da Meso-América tão rápida e com um número tão reduzido de homens?”.
Dentro do tema do “Islamismo Afegão”, poderíamos por exemplo destacar o seguinte problema em forma de indagação: “quais as funções sócio-políticas que motivaram a restrição à educação feminina no Islamismo Afegão do final do século XX”? Ou, ainda, “que estratégias de resistência foram desenvolvidas pelas mulheres afegãs diante das restrições à educação impostas pelo Islamismo talibã no final do século XX”?
Note-se ainda que um problema não precisa estar necessariamente escrito sob a forma interrogativa. O seu sentido é que precisa ser interrogativo. Assim, se declaro que o meu problema corresponde às “funções sócio-políticas que teriam motivado a restrição à educação feminina no Islamismo Afegão do final do século XX”, já está embutida aí uma indagação, mesmo que eu a apresente camuflada sob uma forma redacional declarativa.
A incorporação de uma problemática é fundamental para a História hoje que se escreve nos meios acadêmicos e no âmbito da prática historiográfica profissional. Qualquer gênero historiográfico – da história das civilizações à biografia – pode ser percorrido a partir de um problema.
O tema por outro lado, não precisa ser atravessado por um problema único. Ele pode ser perpassado por um “campo de problemas” ou por uma problemática que se desdobra em duas ou três indagações mais específicas. Se proponho, sem uma maior especificação, uma tese sobre “a repressão à educação feminina no Islamismo Afegão do final do século XX’, abro um claro espaço para alguns problemas interligados. Nenhuma repressão é gratuita. Freqüentemente ela tem bases políticas, econômicas, imaginárias, religiosas ou consuetudinárias. Assim, uma primeira questão, ou um primeiro problema que se cola a este tema, refere-se precisamente às motivações sociais que produziram o fenômeno da repressão à educação feminina no Afeganistão. Por outro lado, nenhuma repressão existe sem gerar alguma forma de resistência. Estudar a repressão à educação feminina é indagar também pelas formas de resistência que as mulheres afegãs desenvolveram em relação a esta prática no período considerado. Tem-se aí um segundo problema, que pode ser examinado em contraponto ao primeiro. Outro problema implícito poderia se referir ao caráter processual deste fenômeno. Porque ele eclode no final do século XX? Qual a história deste padrão repressivo?
O tema proposto, como se vê, abre-se não só a um único problema, mas a um campo de problemas que possivelmente apresentam uma interligação a ser decifrada pelo próprio pesquisador.

Sintetizando o que vimos até aqui, pode-se dizer que um tema bem delimitado de pesquisa histórica deve trazer muito claramente a definição de três dimensões fundamentais: o recorte espacial (um lugar), o recorte temporal, e o problema (Quadro 3 do livro "O Projeto de Pesquisa em História"). Estas três dimensões devem aparecer adequadamente explicitadas no capítulo “Delimitação Temática” do Projeto de Pesquisa (ou, se este capítulo não está previsto, na própria “Introdução” do Projeto). Além de serem dimensões necessárias para delimitar mais adequadamente o tema, produzindo um verdadeiro “recorte temático”, são estas dimensões que tornarão a pesquisa efetivamente viável. Não posso estudar todos os países muçulmanos do final do século XX (ausência de recorte espacial mais circunscrito), nem o Afeganistão em todas as épocas históricas (ausência de recorte temporal), nem todos os problemas presentes no Islamismo Afegão do final do século XX (ausência de um problema singularizado). Cada um destes três recortes ou dimensões de recortes (espaço, tempo e problema) significa dar um passo adiante na conquista da viabilidade para a realização da pesquisa histórica proposta. Significa também um passo adiante no processo de vencer a dispersão temática e encontrar uma concentração temática bem definida. Sobre este tripé repousa um tema bem delimitado, pelo menos no que se refere aos domínios da Ciência Histórica e mais especificamente dos textos monográficos de História.


Recorte Espaço-Temporal

Uma delimitação adequada do período histórico que será examinado é, naturalmente, questão de primeira ordem para qualquer historiador. A escolha de um recorte qualquer de tempo historiográfico não deve, por outro lado, ser gratuita. É inútil escolher, por exemplo, “os dez últimos anos do Brasil Império”, ou “os cem primeiros anos do Egito Antigo”. A escolha de um recorte temporal historiográfico não deve corresponder a um número propositadamente redondo (dez, cem, ou mil), mas sim a um problema a ser examinado ou a uma temática que será estudada.
É o problema que define o recorte, e não qualquer coisa como uma dezena de anos escolhida a partir de critérios comemorativos. Tampouco tem sentido deixar que uma tese em História mostre-se aprisionada pelos recortes meramente governamentais. Pode ser que um recorte relativo ao “Brasil  dos anos JK” não corresponda aos limites exatos do problema que se pretende examinar. O mesmo ocorre com a questão do recorte espacial. Pode ser não tenha sentido para um determinado problema histórico escolhido atrelar o seu espaço a uma determinada unidade estatal administrativa (um país, um estado, uma cidade). Uma proposição temática, conforme veremos, vaza freqüentemente as molduras do tempo estatal-institucional ou dos recortes administrativos. Um tema pode muito bem atravessar dois governos politicamente diferenciados, situar-se atravessado entre duas regiões administrativas, insistir em escorregar para fora da quadratura institucional em que o historiador desejaria vê-lo encerrado.
Trata-se no entanto de uma tendência contra a qual é preciso pôr-se alerta. Por vezes, a mentalidade historiadora é levada automaticamente a fazer suas escolhas dentro dos limites governamentais-administrativos, quase que por um vício corporativo. Cedo o historiador de formação acadêmica vê-se habituado a recortar o seu objeto em consonância com imagens congeladas como a do ‘espaço nacional’ ou do ‘tempo dinástico’: o “Portugal durante o reinado de Dom Dinis”, a “França de Luís XIV”, o “Egito de Ramsés II” – pede-se ao pesquisador um problema que se encaixe dentro de limites como estes. Esta imagem de espaço-tempo duplamente limitada pelos parâmetros nacionais e pela duração de governostalvez uma herança ou um resíduo de herança da velha História Política que dominava explicitamente o século XIX e que ainda insiste em dominar implicitamente boa parte da produção historiográfica do século XXestende-se de resto para a História que almeja também o circuito extra-acadêmico.
É sempre possível, tal como se disse, que o problema a ser investigado requeira um recorte que comece na metade de um governo e se estenda para a primeira metade do governo seguinte, ou que faça mais sentido abarcando dois países do que um único, ou ainda duas regiões pertencentes a dois países distintos. A delimitação de uma região a ser estudada pelo historiador não coincide necessariamente com um recorte administrativo ou estatal: pode ser definida por implicações culturais, antropológicas, econômicas, ou outras. Um grupo humano a ser examinado não estará necessariamente enquadrado dentro dos parâmetros de um Estado-Nação. Um padrão de mentalidade que se modifica pode corresponder a um enquadramento que abranja duas pequenas regiões pertencentes a duas realidades estatais distintas, ou corresponder a uma vasta realidade populacional que atravessa países e etnias distintas, que se interpõe entre duas faixas civilizacionais, e assim por diante.
Fica portanto este alerta. Não adianta partir do pressuposto de que os melhores recortes coincidem necessariamente com um governo, um país, uma cidadequando muitas vezes o objeto construído desejaria romper de diversas maneiras estas muralhas artificiais que insistem em contê-lo, em aparar suas arestas e ângulos agudos, ou em mantê-lo sólido quando ele se quer fluido.
Questões similares também podem ser encontradas nas teses que tomam por objeto a obra de um determinado autor ou artista. Tem pouco valor como história problematizada a escolha de um recorte como “A obra de Machado de Assis” ou “A produção iconográfica de Jean-Baptiste Debret”. Pode-se dar por exemplo que a produção destes autores passe por fases distintas, ou que intercale materiais bem diferenciados do ponto de vista de uma problematização possível. Fazer um levantamento integral da obra de Machado de Assis pode ter sentido em uma tese de literatura. Em História, um recorte que abranja fases heterogêneas só terá sentido se fizer parte do problema verificar como estas fases se relacionam a momentos político-sociais distintos, ou se fizer parte do problema comparar duas fases contrastantes de um autor na sua articulação a singularidades históricas específicas.
Do mesmo modo, a uma tese sobre “a pintura de Debret nos tempos de D. João VImuito vaga e dando a impressão de que se toma para objeto uma questão comemorativa mais apropriada para um catálogodeve-se preferir algo mais problematizado, como, “a  representação  da  sociedade brasileira nas litografias de Debret (Brasil, 1816-1831)”. Ao invés de tomar para objeto, toda a obra plástica deste pintor francês que aqui esteve na primeira metade do século XIX, recortou-se um problema referente à captação dos tipos sociais brasileiros pelo olhar europeu de um pintor-viajante (Debret). Também se evitou o bem-arrumado ‘recorte político-governamental’, associado à chegada e à partida de D. João VI, e permitiu-se que o recorte traspassasse dois períodos diferenciados que se relacionam à fase do Vice-Reino e aos primeiros anos do Império (1816-1831). O problema escolhido, a ‘representação dos tipos sociais por um pintor francês no Brasil do século XIX’, sendo da ordem cultural ou mesmo da esfera da antropologia política, não teria porque prestar contas a uma cronologia institucional ou estatal, típica da história política tradicional.
Pode-se dar também que o mais interessante seja não necessariamente se limitar a Debret, mas sim proporcionar uma comparação das estratégias de ‘representação social’ utilizadas por este pintor francês com as estratégias utilizadas por um seu contemporâneo de origem similar, para verificar a partir daí se existem pontos em comum que habilitem a falar em um “olhar europeu” dos pintores-viajantes sobre o Brasil Colonial ou se, ao contrário, verificam-se experiências inteiramente subjetivas. Deste modo, comparar Debret e Taunay, dois pintores que estiveram no Brasil da época de D. João VI como participantes de uma mesma missão artística, pode-se constituir em um problema histórico tão ou mais interessante do que uma investigação em torno da produção restrita a um só destes pintores[1].
Os exemplos relativos a decisões sobre o recorte de tempo poderiam se estender ao infinito, uma vez que um mesmo tema pode se abrir a inúmeras problematizações possíveis, sendo que cada uma destas problematizações irá conduzir a um recorte ou outro que lhe seja mais adequado. Posto isto, pensar os limites de um recorte em termos de viabilidade para a pesquisa e de adequação ao problema é sempre a postura mais equilibrada.
A mesma necessidade de problematização historiográfica  poderia ser abordada com relação ao ‘espaço’ construído pelo historiador. Deve ser um espaço problematizado, e não um espaço nacional ou comemorativo. Para dar um exemplo clássico, convém lembrar a obra prima de Fernando BraudelO Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe IIque de resto é também uma obra revolucionária no que concerne ao tratamento do tempo, já que introduz pela primeira vez a questão da articulação de durações distintas no tempo histórico trabalhado pelo pesquisador[2]. A demarcação do objeto de pesquisa nesta obra extraordinária nada deve a critérios nacionais, mas sim à construção historiográfica de uma área “econômico-social-demográfica-cultural”, que Braudel chamou de “mundo mediterrâneo”[3].
O objetivo de Fernando Braudel no primeiro volume desta obra foi construir historiograficamente o mundo mediterrâneo do século XVI como uma unidade geo-histórica, embora percorrida por dualidades diversas que se referem às oposições religiosas (cristãos / muçulmanos), aos contrastes geográficos (deserto / mar; montanha / planície), sem falar na multiplicidade de realidades nacionais que se estabelecem sobre este espaço. A este recorte espacial ampliado aplica-se neste primeiro volume o “tempo longo”, duração onde se tornam visíveis as permanências, os aspectos estruturais, as mudanças mais lentas que à distância oferecem a impressão de uma história quase imóvel relativamente às interações entre o homem e a natureza. Os três volumes de O Mediterrâneo constituem uma verdadeira revolução historiográfica no tratamento simultâneo do tempo e do espaço, e oferecem excelente exemplo das novas possibilidades de recortar o tempo histórico trazidas pela historiografia do século XX..
É verdade que, em se tratando das pesquisas de Mestrado e Doutorado nos dias de hoje  e mais especificamente ainda em nosso paísnão é possível optar por um recorte e por um projeto de pesquisa tão ambicioso como aqueles realizados por Braudel em suas três obras monumentais, todas elas divididas em três volumes (“O Mediterrâneo ...”; “A Civilização Material do Capitalismo”[4]; “A Identidade da França”[5]). Estas obras consumiram muitos e muitos anos de trabalho. “O Mediterrâneo”, por exemplo, requereu duas décadas de envolvimentojá que Braudel opta pelo tema em 1923, elabora as suas grandes linhas até 1939, e aprofunda-as durante o período de seu aprisionamento em um campo de concentração nazista. “A Civilização Material” consome um período de envolvimento que vai de 1952 (data do convite de Lucien Febvre para que Braudel escrevesse um volume sobre a dimensão econômico-material da Europa pré-industrial) até 1979 (data da publicação da trilogia).
Pode-se citar um exemplo mais extremo de tese monumental com a Tese de Pierre Chaunu sobre “Sevilha e o Atlântico”, que foi constituída em dez volumes e dos quais os volumes relativos à parte interpretativa possuem mais de três mil páginas. Foi possivelmente a tese mais longa já escrita. Ampla no recorte temporal (um século e meio), vasta no espaço abordado (o Atlântico), extensiva e intensiva na exploração da série documental (toda a documentação produzida pela ‘Casa de Contratação de Sevilha’ entre 1504 e 1650) ... esta tese mostra-se por fim pródiga na apresentação final de seus resultados (7 volumes descritivos e três interpretativos). O trabalho de Pierre Chaunu ficará marcado definitivamente como um clássico da historiografia monumental que se tornou possível em meados do século XX[6]. Exemplos como este, contudo, estão obviamente distanciados de nossa realidade mais direta.
Uma tese acadêmica, no Brasil, deve ser escrita em torno de dois anos e meio para o caso das pesquisas de Mestrado, e em torno de quatro anos para o caso das pesquisas de Doutorado. Além disto, o pesquisador nem sempre conta com alguma ajuda de custo, e quase sempre precisa exercer diversas atividades profissionais regulares durante a elaboração de seu trabalho. Seu tempo é literalmente dividido, e o pesquisador tem de se render resignadamente a esta constatação. Impõe-se aqui, enfaticamente, o critério da viabilidade, que deve interagir dialeticamente com os interesses do pesquisador e da Instituição. Os projetos mais ambiciosos devem ceder lugar às propostas mais exeqüíveis, e é preciso neste momento lidar com a perda: abandonar (ou adiar) a utopia do conhecimento que desejaríamos produzir em favor da concretude do conhecimento que pode ser efetivamente produzido. Os recortes, agora menos por razões científicas do que por razões práticas, novamente se impõem ...





Notas:


[1] Monike Garcia Ribeiro. A  paisagem  artística  no  Brasil como   uma   questão   estratégica   da   memória – o olhar de dois pintores da missão artística francesa : Jean Baptiste  Debret  e  Nicolas Antoine Taunay. Rio de Janeiro: UNI-RIO, 1999.
[2] Fernando BRAUDEL, O mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 2 vol.
[3] José Carlos REIS. Nouvelle Histoire e Tempo Histórico. São Paulo: Ática, 1994. p.74
[4] Fernando BRAUDEL, Civilização Material, Economia e Capitalismo, São Paulo: Martins Fontes, 1997. 3 vol.
[5] Fernando BRAUDEL, L’identité de la France, Paris: Flamarion, 1986. 3 vol.
[6] Pierre e Huguette CHAUNU, Séville et l’Atlantique. Paris: SEVPEN, 1955-1956. Os primeiros seis volumes de “Sevilha e o Atlântico”, escritos em colaboração com Huguette Chaunu, correspondem à “Parte Estatística”, e são acrescidos de um Atlas (“Construction graphique”, vol. 7, 1957). A “Parte Interpretativa”, constituída por mais três volumes que foram pelos autores numerados como VIII1, VIII2, e VIII3, correspondem à Tese de Pierre Chaunu propriamente dita. Esta obra inovadora e monumental introduz na historiografia o campo da História Serial, e os sete primeiros volumes correspondem precisamente à montagem desta “série” que reconstitui o tráfico entre Sevilha e a América entre 1504 e 1650. A “Parte Interpretativa” é pioneira ainda ao introduzir na historiografia a oposição conceitual “estrutura / conjuntura”. O próprio Fernando Braudel desenvolve comentários críticos à obra de Chaunu em “Para uma História Serial: Sevilha e o Atlântico (1504-1650)” (Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1978. p.125-142).

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Para um artigo sobre "Projeto de Pesquisa", leia: http://ning.it/hiOVFx

[BARROS, José D'Assunção. “Projeto de Pesquisa - suas funções e partes constitutivas” in Liberato – Revista da Escola Técnica de Novo Hamburgo, n°11, 2008, p.67-75]


O artigo foi baseado em um dos capítulos do livro "O Projeto de Pesquisa em História" [BARROS, José D'Assunção. O Projeto de Pesquisa em História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 8a edição]

*Quemse interessar em receber dois capítulos do livro "O Projeto de Pesquisa em História", para conhecer a obra, peça pelo e-mail: jose.d.assun@globomail.com